Você  acorda cedo. Liga a televisão e, enquanto toma o café da manhã, espera  pelas primeiras notícias do dia através dos telejornais. Entre uma  matéria e outra, desde curiosidades às informações sobre o rumo das  personagens da novela do horário nobre, você se depara com um novo  escândalo político. Uma rotina diária para os brasileiros, que  infelizmente parecem perder sua capacidade de se admirar diante da  desonestidade.
As  notícias sobre “mensalões”, desvios de verbas públicas (entre elas a  merenda escolar), má administração do dinheiro público em diversas  escalas fazem com que seja cada vez mais comum encontrarmos posições do  tipo: “política? Eu nem me meto”, “político é tudo igual”, “nem gosto de  política”, “política não se discute”, entre outras. Infelizmente esse  tem sido o posicionamento de muitas pessoas que, com orgulho, acreditam  estarem agindo com bastante eloqüência. Mas será este o comportamento  ideal em meio a tal situação? Para um dos maiores educadores brasileiros  não.
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| Paulo Freire | 
Nascido  em Pernambuco, Paulo Freire foi responsável por um método capaz de  alfabetizar trezentos trabalhadores rurais em quarenta horas.  Experiência iniciada por ele em Angicos- RN e que o tornou famoso a  ponto de ser convidado, durante o governo João Goulart, a implantar um  programa nacional de alfabetização de adultos. Convite que,  posteriormente, também lhe rendeu experiências, semelhantes à de  Angicos- RN, em países latinos e norte-americanos, africanos e europeus.  Seu sistema de alfabetização foi baseado no ensino da leitura e escrita  das palavras presentes na vida dos trabalhadores, portanto utilizadas  cotidianamente por estes. E o sucesso da experiência em Angicos deveu-se  a uma proposta que aproximava a educação à vida dos alunos, portanto,  capacitava-os a melhor entender a própria realidade e as próprias  práticas a que estavam habituados.   
Com  Paulo Freire aprendemos que a educação é uma atividade política, pois  só é efetivada através do educador que discute, junto ao aluno, as  informações e acontecimentos que possuem influencia direta em suas  vidas, seja no âmbito federal, estadual, municipal ou mesmo comunitário.  
Se  a educação deve primar pela formação de cidadãos críticos, capazes de  se posicionar sobre os mais diversos assuntos, é necessário que este  “modelo” de cidadão também seja refletido na imagem do professor.
Portanto,  existe uma pergunta que deve sempre ser feita pelo educador: queremos  formar apenas profissionais qualificados para o mercado de trabalho? Ou  podemos adicionar a esse aluno a possibilidade de melhor compreender a  sua própria realidade, capacitá-lo para melhor discuti-la politicamente e  transformá-la?   
Se  quisermos uma educação mais voltada para a formação do ser humano, não  tenhamos medo de expor nossos posicionamentos em sala de aula, pois se  um assunto tão determinante em nossas vidas como a política não puder  ser debatida e analisada nas escolas, onde mais ela poderá ser  abordada?! Será que o assunto deve se restringir a abordagem da classe  política? Se assim fosse, seria uma situação bastante conveniente para  esta.  
Mais fica o alerta! Que  este posicionamento seja livre, e de fato crítico e problematizador,  voltado ao interesse e necessidades coletivas, e não influenciado pelo  oportunismo dos que se beneficiam (ou buscam se beneficiar) do  assistencialismo e favorecimento pessoal. Aos que tendem a colocar os  interesses pessoais acima dos coletivos, a discussão política torna-se  uma retórica vazia e sem nenhum ensinamento.
